Inovar e trabalhar é com ele, que só pensa em continuar transformando a pecuária em um setor altamente produtivo, eficiente e sustentável.  A Fazenda Vera Cruz, adquirida pelo Frigorífico Vera Cruz em 1970, hoje com 47 anos é um exemplo de produtividade

CONHEÇA A HISTÓRIA DO PATRIARCA E A ORIGEM DA VERA CRUZ

Com o olhar de quem acompanhou e viveu inúmeras transformações do mundo nas últimas décadas, o goiano Jairo Machado Carneiro (foto 1) segue rumo aos 81 anos de idade inovando, a cada dia, dentro do agronegócio brasileiro. O menino nascido na Fazenda Canastra, no município goiano de Cristianópolis, aprendeu desde cedo com os pais, Filóstro e Genoveva, que a grande riqueza do Brasil estava no campo. Empreendedor nato, Jairo já mostrava ainda garoto a forte vocação para o agronegócio (foto 2). Com apenas 9 anos, acompanhado dos irmãos, montava em um carro de boi rumo à área urbana de Cristianópolis para vender os tijolos fabricados na fazenda do pai. Naquela época, o Brasil tinha uma grande população rural, que trabalhava na lavoura de forma rudimentar, ou seja, sem nenhuma tecnologia. Na pecuária, o gado indiano começava a ganhar força nos pastos brasileiros. A raça nelore, que, décadas depois, viria a se tornar a grande paixão de Jairo e dos filhos, começava a ser registrada oficialmente pela então Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (hoje ABCZ). A família Machado Carneiro decidiu empreender em outra região e mudou-se da cidade de Cristianópolis para a capital Goiânia, em 1948. Jairo, aos 13 anos, aproveitava o tempo livre após a escola para vender, de casa em casa, a lenha que ele mesmo rachava. 

 Em cima da esquerda para direita os irmãos Íris e Orlando; em baixo Jairo, Iracema e Otoniel

Começava a década de 1950, os chamados “Anos Dourados”, um período marcado pelas transformações socioeconômicas no Brasil, por grandes avanços científicos e tecnológicos. No mesmo ano em que o mineiro Juscelino Kubitschek assume a Presidência do Brasil, em 1955, Orlando, irmão mais velho de Jairo, e seu pai Filóstro, decidem aproveitar o grande potencial de Goiás para produção de leite e vislumbram na instalação de uma fábrica de manteiga (foto 4) a oportunidade de ter sucesso nos negócios.

Com o crescimento dos negócios, foi adquirida a fábrica Manacá, instalada em Anicuns/GO, cidade que teve sua formação baseada na exploração do ouro, e que hoje tem uma economia impulsionada pelo agronegócio.

Aos 19 anos, a convite da família, Jairo tornou-se sócio da fábrica de manteiga e mudou-se para Anicuns na responsabilidade de gerenciar a empresa. Em Anicuns, casou-se e iniciou sua família.

Na época, para conseguir creme de leite para a fábrica, Jairo percorria as fazendas da região. Essa rotina durou até 1962, quando a família decidiu trabalhar na outra ponta da cadeia pecuária: a produção de carne.

Ele tornou-se, junto com seu pai e irmãos, sócio do Frigorífico Vera Cruz (foto 3), nome que permanece nos negócios da família até os dias atuais, por meio do Nelore Vera Cruz.

A lida diária era comprar gado em pé para abastecer a indústria, enquanto a esposa Maria Célia Zago Carneiro, uma típica descendente de italianos com pulso firme e dedicada à família, cuidava dos quatro filhos Sandra, Elaine, Eduardo e Jairo Filho. A capacidade de abate diária do frigorífico oscilava entre 150 e 200 cabeças e o mercado de carne mostrava-se bastante promissor. A carne resfriada produzida no Frigorífico Vera Cruz era comercializada nas cidades de Goiânia, Brasília e São Paulo.

Como a capital do Brasil vivia os reflexos do desenvolvimento econômico proporcionado pelo governo de Kubitschek, era para lá que iam os melhores cortes da carne do Vera Cruz. Já o charque (carne salgada) era transportado por avião para o Nordeste, especialmente os Estados da Bahia, Pernambuco e Paraíba. Belém, no Pará, também estava na rota de abastecimento do frigorífico, mas o produto era transportado para lá por rodovia.

O Frigorífico Vera Cruz (foto 6) foi pioneiro na individualização de peças bovinas transformadas em charque. Enquanto nas outras indústrias o charque era feito com o boi inteiro, separando apenas as costelas, o Vera Cruz embalava seu produto em sacos de linhagem de 60 kg. Considerada uma inovação para a época, esse tipo de embalagem foi fruto de pesquisa junto a charqueadas com longa tradição no setor, localizadas nas proximidades de estradas de ferro. Ciente da responsabilidade social da empresa, o frigorífico costumava doar carne para orfanatos de Goiânia e Anápolis (foto 5) e para as famílias menos favorecidas da região.

Paralelo as atividades do frigorífico, em 1964, Jairo iniciou suas atividades na agropecuária com aquisição da Fazenda Mata do Tingui, localizada em Alvorada, no Tocantins, onde, além da pecuária, tomou gosto pela agricultura. Lá, plantava arroz e montou a empresa sementes Alvorada, que comercializava sementes de arroz para os Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso. Naquela época, nascia sua paixão pelo Vale do Araguaia.

No final da década de 1970, quando o país passava por mudanças na estrutura da produção e na sociedade, Jairo optou por inovar em outro segmento da pecuária. Encerrou suas atividades no ramo da indústria em 1976 e, com a divisão das propriedades do frigorífico, ficou com a Fazenda Vera Cruz, em Barra do Garças/MT, no Vale do Araguaia. Isso levou o empreendedor a mudar novamente o rumo dos negócios, abrindo a fazenda e iniciando suas atividades pecuárias na região. Em 1980, adquiriu uma área na margem esquerda do Rio Suiá Missu. Para ter acesso àquela fazenda, foram necessários 6 meses de trabalho árduo e muita determinação para construir uma estrada de 109 km e abrir a Fazenda Santa Cruz. Essa estrada foi, mais tarde, utilizada para implantação da cidade de Querência, hoje um dos grandes polos agrícolas do Mato Grosso.

Jairo sempre teve preocupação com a parte social e ambiental do negócio. A esperança em um futuro melhor e progressista fez com que construísse, no coração do Mato Grosso, duas pequenas usinas hidrelétricas (foto 7) para levar eletricidade às suas propriedades, uma grande inovação para aquela época. Em plena década de 1980, no auge da Guerra Fria, o povo nas ruas pelas Diretas Já, a pecuária começava a experimentar mais inovações em seu sistema de produção. Em 1990, alguns programas de melhoramento genético ajudavam a dar uma nova direção para a seleção de zebu.

Visionário, Jairo (foto 8) decidiu que era hora de fazer o DNA inovador aflorar nos filhos. Em 1992 apoiou a iniciativa dos filhos Jairo Machado Carneiro Filho, que é médico veterinário, e Eduardo Zago Machado, engenheiro agrônomo, de selecionar a raça nelore. Dali para a frente, a história da Vera Cruz continuou sendo escrita sempre com a tecnologia como palavra-chave de cada capítulo. Hoje, o criatório comemora seus 25 anos de seleção.

Não satisfeito com o que já havia empreendido e sem nunca cansar, em 2006 seu espírito desbravador vislumbrou uma nova oportunidade em terras mais baratas e muito produtivas. Jairo adquiriu, então, a Fazenda Sombra da Serra, no Estado do Pará.

Sua vocação de agricultor no passado volta a aflorar em 2011. Pensando na sustentabilidade da propriedade, investe em agricultura de precisão, Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e plantação de eucalipto.

A lida diária no campo Jairo mantém até hoje. Aos 80 anos, lidera todas as atividades na fazenda. Não quer aposentar seu espírito empreendedor. Afinal, a pecuária brasileira está a todo vapor e precisa de seus pioneiros para seguir no caminho certo. ■

Foto 4. Anúncio Comercial da Manteiga Manacá veiculado no Catálogo Telefônico de Goiânia, Edição de 1960

Foto 8. Jairo Machado Carneiro, em 1982

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